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1200px Igreja Nossa Senhora do RosrioI - As origens

As origens históricas de Cabo Verde se situam convencionalmente, em l460, data em que dois navegadores, Diogo Gomes e António de Noli, às ordens do Infante D. Henrique de Portugal, teriam encontrado as ilhas de Sotavento.

A responsabilidade da evangelização das ilhas coube, desde o descobrimento, à Ordem de Cristo.

Pouco se sabe acerca da evangelização quatrocentista das ilhas. No entanto, Frei Fernando da Soledade e Jorge Cardoso afirmaram que os Frades Franciscanos Frei Rogério e Frei Jaime, naturais de Catalunha e residentes no Convento de S. Bernardino de Atouguia, para aqui vieram com os colonos em l462.

Em l480 já se fala de erecção do segundo templo paroquial destas ilhas, dedicado a S. Filipe, na ilha do Fogo.

Por volta de l495 é construída a Igreja de Nossa Senhora do Rosário uma das mais antigas da ilha de Santiago.

Em l508 estava já construída na Ribeira Grande, ilha de Santiago, a igreja do Espírito Santo, e em l526 dava-se início à construção da capela-mor da Igreja de Nossa Senhora, na vila de Praia de Santa Maria.

O povoamento das ilhas de Santiago e Fogo foi rápido, devido à importação de grande número de escravos vindos do continente, enquanto que as ilhas do Maio e da Boa Vista eram povoadas por pastores.

Em l5l4 e l5l6 aparecem já as primeiras normas relativas ao Baptismo dos escravos a bordo de navios negreiros de passagem por Santiago.

 V - Os novos tempos

Passada a borrasca do vendaval anti-religioso implantado em l9l0 em Portugal e beneficiando de leis tolerantes e até, em certo sentido, favoráveis à Igreja que foram aparecendo a partir de l92l, Cabo Verde passaria, desde l94l, a usufruir das vantagens de ordem espiritual e temporal do Acordo Missionário então estabelecido entre a Santa Sé e Portugal. Por força desse acordo Portugal deveria permitir a entrada nas então colónias de missionários não portugueses. No mesmo documento se previa a transferência da sede da Diocese de S. Nicolau para a cidade da Praia. E seria ainda para cumprir as letras do acordo  Missionário que o território da Guiné-Bissau viria a deixar de fazer parte da Diocese de Cabo Verde. Estes factos abriram um novo período na vida da Igreja em Cabo Verde, e onde se poderiam destacar as etapas seguintes: l94l a l955, com D. Faustino dos Santos que chamou à missionação na Diocese os seus confrades Espiritanos, os Salesianos, os Capuchinhos, conseguindo a revitalização da missão na Diocese; l955 a l975 com D. José do Carmo Colaço que abriu o Seminário de S. José, na Praia, permitindo a formação de sacerdotes diocesanos, a maioria hoje jovens, que são sinal de esperança de uma nova largada na evangelização do arquipélago.

 VI - Lista dos Bispos de Cabo Verde

Na série dos Bispos de Cabo Verde contam-se 34 nomes sendo 22 religiosos (dos quais 11 eram franciscanos) e 12 Diocesanos. Cada um procurou cultivar a vinha do Senhor nesta terra agreste de clima mas fecunda de tenacidade e de esperança.

O 3º Bispo, D. Francisco da Cruz, destaca-se pelo longo episcopado, pela avançada idade a que chegou e pelas grandes obras que iniciou. O 5º, D. Pedro Brandão, por ter abandonado a Diocese após ter sido caluniosamente acusado de “vender as suas ovelhas”, enquanto, ao que parece, ele queria uma escravatura com humanidade. O 9º, D. Lourenço Gorro, por ter passado privações por causa da pobreza de Cabo Verde e do atraso do seu salário e ter ameaçado encerram as portas da Sé e ir para o interior da Ilha a fim de se alimentar melhor. O 12º, D. Vitoriano, por ter sido eleito muito jovem, aos 30 anos, e por ter defendido a catequização e baptismo dos escravos, dando luta aos armadores dos navios. O 14º, D. José por ter sofrido muito: ficou cego durante a visita a Guine, de regressou naufragou e, ajudado por uma nau portuguesa, foi ter à Fortaleza; foi tido como santo e muito amado. o 15º, D. João por ter sido escravizado na Guiné e por ter falecido sobre o mar, na viagem para a sua Diocese. O 22º, D. João Henrique, porque antes de ter sido eleito bispo era um desterrado político e porque o cabido não o reconheceu como Bispo e por ter sido enterrado no cemitério comum e sem honras do episcopado. O 25º e o 32º, os dois de nome José, por terem aberto respectivamente o Seminário de S. Nicolau e o de S. José, na Praia, cultivando recursos humanos, os únicos destas terras, para a Igreja e para a sociedade. O 29º, D. José, por ter enfrentado os ataques de republicanos, de anticlericais e de maçónicos, que lhe impediram o desembarque na Cidade da Praia para onde pretendia transferir o Bispado, conseguiram o fecho do Seminário de S. Nicolau no tempo do seu episcopado. O 33º, D. Paulino Évora por ter trazido a Boa Nova a um Cabo Verde recém-independente, por ter celebrado o Jubileu dos 450 anos da Diocese e ter dado largada a um grande dinamismo pastoral nos anos 80’ e inícios de 90’, por ter acolhido o Papa João Paulo II na Diocese, por ter participado na passagem do sistema político de partido único ao pluri-partidarismo, por ter ordenado muitos sacerdotes cabo-verdianos, por ter solicitado e assistido à Criação da Diocese de Mindelo e por ter ordenado D. Arlindo Gomes Furtado, o Primeiro Bispo de Mindelo, hoje Cardeal de Cabo Verde.

II - A erecção da Diocese

a) Criação da Diocese e da Cidade em Santiago

Em 20 de Maio de l532, o rei D. João III, de Portugal, julgando poder fundar um Bispado em Cabo Verde, formulou o pedido ao Papa nesse sentido. A sede seria na vila da Ribeira Grande, ilha de Santiago - a qual, para o efeito, teria que ser criada cidade como de facto aconteceu a quando da criação da Diocese, e o território abrangeria não só o arquipélago de Cabo Verde como também uma parte do continente que lhe ficava contíguo numa extensão de 350 léguas de terra firme na costa ocidental africana, desde o rio Senegal até ao rio S. André, perto de Cabo das Palmas, isto é, a actual Gâmbia, o sul do Senegal, a Guiné Bissau, a Guiné Conacry, a Libéria, a Serra Leoa e a Costa do Marfim. O rei apresentara para bispo D. Braz Neto, ao tempo, embaixador de Portugal em Roma.

Em 3l de Janeiro de l533 pela Bula “Pro Excelenti”, o Papa Clemente VII criava a Diocese de Santiago de Cabo Verde com sede na igreja paroquial da Ribeira Grande, ilha de Santiago. Ficaria sufragânea da Diocese do Funchal, erecta na mesma data, e, pelo mesmo documento, erecta em metrópole Eclesiástica.

Dos três primeiros Bispos de Cabo Verde sabe-se que D. Braz Neto (l533-l534) tomou posse da Diocese em Lisboa, mas por lá ficou sem ter vindo à Diocese, como aconteceu, de resto, com muitos dos seus sucessores; que D. João Parvi ou D. João de Évora (l538-l546) que era francês de origem, veio à Diocese (e nisso foi o primeiro) e faleceu na Ribeira Grande, tendo sido sepultado na Sé; e que D. Francisco da Cruz (l547-l572) foi o iniciador dos trabalhos da Catedral, bem como da Misericórdia.

b) Regime de Padroado

Portugal conseguira da Santa Sé o Direito do Padroado nas terras do seu domínio: O governo de Portugal assumia a responsabilidade de financiar a missão católica, pagando o salário dos bispos, dos padres e de todos os agentes, e as despesas de construção e manutenção das Igrejas e outras infra-estruturas; por outro lado, o Papa escolhia os bispos só entre os candidatos apresentados por Portugal e não enviava missionários não portugueses às terras que estavam sob o domínio de Portugal. Este direito perdurou praticamente, até 1956.

III - Clero e Paróquias

a) Primeiros Padres

Em l555 o rei autorizava a abertura, em Ribeira Grande, de “uma escola de Latim e Moral”. Seu carácter de externato e sua insuficiência levaram o Bispo a abrir o Seminário em l570 que, entretanto, por dificuldades várias, só durou até l594.

Em l2 de Janeiro de l570 havia sido decretado pelo rei D. Sebastião a construção de um Seminário Diocesano, mas só o Bispo D. Frei Francisco de S. Simão é que daria início quer à construção do Seminário quer à da residência episcopal.

No entanto, apesar da descontinuidade na formação, a Diocese, além do clero secular, procedente de Portugal, pôde contar, logo desde o início, com algumas dezenas de sacerdotes nativos formados localmente. Já por volta de l520 existiam cerca de 20 sacerdotes nativos. São ainda exemplo disso os Padres Manuel Mendes e Nicolau Fernandes, naturais de Santiago e nomeados, aquele em l574 e este em l592, respectivamente pároco de Santa Catarina do Mato e Cónego da Sé Catedral. Prova ainda dessa abundância é também a determinação consignada na portaria real de l608 que mandava dar precedência aos nativos na atribuição dos cargos eclesiásticos.

Além do clero secular (local e procedente de Portugal), trabalharam na Diocese, nomeadamente em Santiago e Fogo, os Jesuítas, os Capuchos das Províncias da Soledade e da Piedade e também alguns sacerdotes Agostinhos e frades da Ordem Terceira de S. Francisco.

 Em l600 há notícias da existência das Freiras de Santa Clara na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição .

b) Primeiras Paróquias

Quanto às Paróquias, não se sabe exactamente a data da sua criação mas são certamente anteriores à criação da própria Diocese, já que para a sede desta foi escolhida em 3l de Janeiro de l533 a Paróquia da Ribeira Grande em Santiago. Além disso, em l480 já se fala da erecção do segundo templo paroquial destas ilhas, no Fogo. Em l534 S. Filipe já tem Pároco na pessoa do Padre Gil. A Paróquia de S. Lourenço, no Fogo seria criada em l556.

 Em 3 de Agosto de 1575 foi publicado um alvará para um capelão em S. Antão.

A Igreja da Misericórdia começaria a ser construída por volta de l556, mandado pelo Bispo Frei Francisco da Cruz que também mandou construir a Sé. Entretanto, por um documento datado de 20 de Maio de l572 --pelo qual, com o fim de ajudar o povo a sustentar o seu clero, o rei D. Sebastião mandava que os vigários e capelães das freguesias com menos de duzentos fogos recebessem 30$00 em mantimentos anualmente - se conclui que já na segunda metade do século XVI l56l existiam já doze das nossas actuais 30 Paróquias, a saber: Nossa Senhora da Graça, na vila da Praia; S. Nicolau Tolentino, na Ribeira de S. Domingos; S. Filipe, no Fogo; S. João da Ribeira do António, em Santiago; Nossa Senhora da Luz, dos Alcatrazes; (Primeiro Pároco em l4.7.l572); S. Jorge dos Órgãos; Santa Catarina do Mato; S. Miguel da Ribeira dos Flamengos; S. Lourenço do Pico, na ilha do Fogo; S Tiago da Ribeira Seca (l3.l.l556) ; e a Paróquia da sede da Diocese que posteriormente (l800) seria dividida em duas: Nossa Senhora do Rosário e Misericórdia Portanto, 9 já só na ilha de Santiago.

Sabe-se que data de l800 o envio de sacerdotes para as ilhas de S. Nicolau, Maio e Boa Vista.

 A Paróquia do Maio (N S. da Luz) terá sido fundada em l677. O mesmo teria acontecido com a (s) da Boa Vista. Na primeira metade do século XIX teriam sido criadas as Paróquias de N.S. das Dores, na ilha do Sal (l834 mais ou menos). Nos fins do século XIX, e graças ao Seminário, o aumento do número de sacerdotes permitiria a criação, entre outras, das Paróquias de S. João Baptista, em Santo Antão; Nossa Senhora da Lapa, Queimadas, S. Nicolau; (criada por volta de l595 ); Nossa Senhora do Monte, na Brava; Santa Catarina em Cova Figueira, Fogo. A Paróquia de Nossa Senhora da Ajuda no Fogo data do século XVII.

IV - Seminários

Já se faz  referência aos esforços realizados a partir de l555 no sentido de formação do clero local na ilha de Santiago .

Em S. Nicolau dava-se início, em 3 de Setembro de l866, ao Seminário Diocesano que haveria de formar excelentes e muitos sacerdotes (mais de 50 entre os anos de l866 e l899) e também, mais tarde, funcionários superiores e homens letrados. Ele foi, na época, o melhor da África Ocidental na zona dos Trópicos. Para permitir o acolhimento dos leigos passou mais tarde (l892) a chamar-se “Seminário-Liceu”. A ele seria anexada a extinta Escola Superior da Praia por esta se revelar ineficaz.

O anticlericalismo de que enfermou agudamente o regime republicano implantado em Portugal em l9l0 haveria de ditar a supressão do Seminário a qual veio a consumar-se com uma lei de 3l de Julho de l9l7.

Entretanto, apesar disso, alguns seminaristas, embora sem o apoio do Estado, teriam continuado os estudos  na Escola Primária Superior criada ali mesmo no Seminário. Mas até isso desapareceria quando, em l93l, foi suprimida inesperadamente a própria Escola Superior que seria transformada em albergue, primeiro aos cerca de 200 deportados políticos procedentes de Portugal e, mais tarde, de quartel para tropas vindas de Angola. Pode-se assim imaginar a devassidão que o seu espólio literário sofreu: a biblioteca se perdeu quase totalmente.

O actual Seminário Diocesano data de l3 de Outubro de l957 e situa-se na cidade da Praia. Até hoje recebeu mais de 600 alunos dos quais cerca de 40 foram ordenados sacerdotes e a maioria encontra-se a desempenhar, no país e na diáspora, cargos de responsabilidade em todas as áreas da vida social, política e empresarial, na música, na literatura e nas 

Lista dos 34 Bispos

 Brás Neto, O.F.M. (1533-1538)

  1. João Parvi (1538-1546)
  2. Francisco de la Cruz, O.S.A. (1553-1574)
  3. Bartolomeu Leitão (1572-1587)
  4. Pedro Brandão, O. Carm. (1588-1608)
  5. Luis Pereira de Miranda (1608-1610])
  6. Sebastião de Ascensão, O.P. (1611-1614)
  7. Manuel Afonso de Guerra (1616-1624)
  8. Lorenzo Garro (1625-1646)
  9. Fabio dos Reis Fernandes, O. Carm. (1672-1674)
  10. Antonio de São Dionysio, O.F.M. (1675-1684)
  11. Victorino do Porto, O.F.M. (1687-1705)
  12. Francisco a São Agostinho, T.O.R. (1708-1719)
  13. José a Santa Maria de Jesus Azevedo Leal, O.F.M. (1721-1736)
  14. João de Faro, O.F.M. (1738-1741)
  15. João de Moreira, O.F.M. (1742-1747)
  16. Pedro Jacinto Valente, O. do Cristo (1753-1774)
  17. Francisco de São Simão, O.F.M. (1779-1783)
  18. Cristoforo a São Boaventura, O.F.M. (1785-1798)
  19. Silvestre a Maria Santissima (Santa Maria), O.F.M. (1802-1813)
  20. Geronimo do Barco, O.F.M. (1820-1831)
  21. João Henriques Monis (1845-1847)
  22. Patrício Xavier de Moura (1848-1859)
  23. João Crisóstomo de Amorim Pessoa, O.F.M. (1860-1861)
  24. José Luis Alves Feijo, O.SS.T. (1865-1871)
  25. José Dias Correia de Carvalho (1871-1883)
  26. Joaquim Augusto de Barros (1884-1904)
  27. António Moutinho (1904-1909)
  28. José Alves Martins (1910-1935)
  29. Joaquim Rafael Maria d'Assunção Pitinho, O.F.M. (1935-1940)
  30. Faustino Moreira dos Santos, C.S.Sp. (1941-1955)
  31. José Filípe do Carmo Colaço (1956-1975)
  32. Paulino do Livramento Évora, C.S.Sp. (1975-2009)
  33. Arlindo Gomes Furtado (2009)